Areia nos dentes, de Antonio Xerxeneski

21 05 2011

Não me recordo de ter lido alguma história sobre mortos-vivos ou criaturas do gênero antes, ainda que imagine do que elas são capazes. E se colocarmos essas criaturas apavorantes típicas de contos de terror no faroeste? No mínimo, uma mistura inusitada, e é esta a proposta de Antônio Xerxenesky em Areia nos Dentes, publicado pela Não Editora, onde a típica guerra entre famílias do faroeste é o ponto de partida para uma história envolvente e que enche os olhos do leitor com reviravoltas e inúmeros clímax ao longo da narrativa.

O livro conta a história de Ruan Ramírez, filho de Miguel, que vive em pé de guerra com a família Marlowe por pensar que eles escondem algo suspeito. Embora esta seja a base, a história surpreende por ser conduzida de uma forma inesperada: é uma narrativa dentro da narrativa. Ela é contada por um outro Ruan, descendente direto do primeiro, que usa as palavras aliadas à narrativa para reconstruir em detalhes a história cheia de ação e reviravoltas de sua própria família na Cidade do México.

A começar pela capa (e a proposta da Não Editora é justamente ‘’queremos que o nosso público não tenha vergonha de assumir que julga o livro pela capa”), o livro encanta. O formato leve que a editora deu ao livro faz com que ele desperte a curiosidade do leitor. Xerxenesky inova com uma construção narrativa inusitada e com um enredo elaborado de forma diferente, onde vários estilos de apresentação da escrita são mostrados ao longo do livro, intercalados de maneira a fazer o leitor transitar com leveza entre eles e marcando a intensidade dos fatos apresentados de acordo com a proposta do autor. O narrador periférico interrompe a narrativa do Velho Oeste a todo instante, mostrando como sua própria identidade interfere na apresentação da história e dando o tom de suspense necessário a ela. As interrupções são, ainda, momentos de descontração que moldam a estética da história.

Quanto ao enredo, podemos dizer que ele cativa. E para isso nem é preciso aparecerem os zumbis, até porque eles só dão as caras mais tarde. A dúvida inicial do leitor em ‘’onde diabos estão os zumbis?’’ desaparece logo nas primeiras páginas, quando ele é imerso na vida das personagens e se insere na narrativa de forma a virar as páginas com avidez. Quando os zumbis aparecem, o leitor se surpreende, e a história os apresenta da maneira clássica: rastejantes, com sangue para todo lado e aos montes, quase uma epidemia de mortos-vivos.

É uma leitura fácil, intrigante, cativante, interessante. A mistura deu certo, foi uma sacada brilhante de Antonio Xerxenesky a junção entre zumbis e faroeste no escaldante deserto. Areia nos dentes é um ótimo livro, num formato encantador, com certeza leitura obrigatória para aqueles que apreciam histórias fabulosas capazes de levar o leitor a imaginar misturas inéditas, para quem gosta de ir além do convencional.

resenha feita por Geisson Homrich

Título: Areia nos dentes
Autor: Antonio Xerxenesky
Editora: Não Editora
Páginas: 144


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